Normalmente, quando se aproximam os seis meses do bebê, começa aquela ansiedade nos pais e mães: está chegando a hora da introdução alimentar.
Como fazer? O que oferecer? Em qual quantidade? De que forma? É provável que os pais já tenham pesquisado receitas, teorias e técnicas em livros e na internet – e talvez por isso tenham vindo parar aqui.
Mas, antes de começar, um alerta importante: converse sempre com o pediatra que está acompanhando o desenvolvimento do seu bebê para receber orientações específicas de acordo com o desenvolvimento de cada criança. Combinado? Agora sim:
Introdução alimentar é a fase em que o bebê começa a receber a alimentação complementar ao leite materno.
Note que complementar é diferente de substituir, ou seja: os alimentos oferecidos neste momento não substituem a nutrição fornecida pelo leite materno (ou pela fórmula receitada pelo pediatra quando a amamentação não é possível), apenas complementam. Por isso, podemos dizer que o processo de introdução alimentar dura vários meses ou mais de um ano, conforme o ritmo da criança. E está tudo certo!
Segundo recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde (MS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entre outras organizações de saúde, a introdução alimentar deve ser iniciada no sexto mês de vida do bebê – desde que ele não tenha nascido prematuramente ou tenha outras questões de saúde que devem ser avaliadas pelo pediatra.
Mas o que fazer se a licença-maternidade acaba aos quatro meses de vida do bebê, dificultando o aleitamento materno exclusivo até os seis meses? Nesses casos, aconselha-se que o leite materno seja ordenhado e congelado para ser oferecido ao bebê em uma mamadeira ou copinho, conforme orientação do pediatra.
Observação: o copinho é o mais indicado para mães que pretendem continuar o aleitamento materno após os seis meses, pois evita a confusão de bicos (do peito da mãe e da mamadeira).
A logística muitas vezes é complicada, mas é o ideal para o desenvolvimento do bebê.
Vamos entender por quê?
Até os seis meses de idade, todos os nutrientes que o bebê precisa são fornecidos pelo leite materno – ou pela fórmula indicada pelo pediatra para casos de impossibilidade do aleitamento materno.
Além disso, até os seis meses de idade, o organismo da maioria dos bebês ainda não está pronto para ingerir e digerir outros alimentos.
Já reparou que, por reflexo, usam a língua para colocar para fora da boca qualquer coisa que não seja o seu leitinho já conhecido? Esse é o reflexo de protrusão, um dos sinais de que o bebê ainda não está preparado.
Por volta dos seis meses, as enzimas digestivas e as bactérias intestinais já estão mais preparadas para proteger o bebê de possíveis infecções, os rins já estão mais preparados para eliminar maiores quantidades de sódio e o sistema imunológico já está pronto para entrar em contato com novos nutrientes e proteínas, reduzindo o risco de alergias alimentares. Vale a pena esperar, não é mesmo?
Os sinais de que o bebê está pronto para experimentar outros alimentos além do leite materno costumam aparecer por volta dos seis meses de idade. Confira quais são:
Se interessa pelo que você come
Sustenta cabeça e tronco e consegue sentar sem apoio
Já segura objetos com as mãos
Já reduziu ou eliminou o reflexo de protrusão
Faz movimentos voluntários com a língua e com a boca, mostrando que está pronto para mastigar (mesmo que ainda não tenha dentes)
O bebê está pronto, demonstra muita curiosidade pelos alimentos dos adultos, estica as mãozinhas para pegar e imita os movimentos de mastigação. Vai ser um comilão, certo? Talvez sim, talvez não.
Ele vai experimentar uma sensação de textura e sabor completamente diferente do que estava acostumado até então. Alguns vão se adaptar e aceitar isso muito bem. Outros, vão precisar de mais tempo. Isso não precisa ser motivo de angústia.
Lembre-se: a introdução alimentar é para apresentar uma nova forma de nutrir-se. Não necessariamente para oferecer toda a nutrição.
A alimentação complementar já inclui todos os grupos alimentares desde o início. Água, cereais, legumes, tubérculos, carnes, frutas e verduras podem ser apresentados de forma equilibrada durante as refeições.
Cuidados especiais na introdução alimentar
Ofereça água para hidratar o bebê
Evite sucos de fruta: prefira as frutas in natura, que oferecem mais fibras e menos frutose
Prefira usar temperos naturais para evitar o excesso de sódio
Se oferecer ovos, atente-se para que estejam bem cozidos para evitar contaminação por bactérias
Evite acrescentar açúcar ou leite às papas para não interferir na aceitação de outros alimentos. O açúcar deve ser evitado até os dois anos de idade
O mel também deve ser evitado até um ano de idade. Antes disso, o sistema imunológico não está preparado para combater um tipo de bactéria comum no mel, a Clostridium botulinum, o que aumenta a chance de desenvolver botulismo infantil
Os alimentos podem ser apresentados na forma de papa, amassados com o garfo, ou ainda cozidos e picados para que a criança segure e experimente com as próprias mãos (como indicado pela técnica BLW: Baby-Led Weaning). Seja qual for a escolha da família, o acompanhamento constante de um adulto é essencial. Vamos entender esses métodos?
Método tradicional de alimentação complementar
No método tradicional de alimentação complementar, recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a alimentação é espessa e oferecida pelo adulto com uma colher.
Inicia-se com consistência pastosa (papa ou purês), com alimentos e frutas amassados com o garfo, sem peneirar ou liquidificar. A orientação é sempre observar e respeitar os sinais de saciedade do bebê, sem forçar a alimentação.
Gradativamente aumenta-se a consistência da comida. Por volta dos 8 meses, já se pode oferecer em pedacinhos pequenos, até que, por volta de um ano, já consiga comer a mesma comida da família.
A introdução alimentar é um momento gostoso de interação. Por isso, busque ter a atenção totalmente voltada para o ato de comer, sem outras distrações, como televisão ou celular. O ideal é que as refeições do bebê sejam nos horários de refeições da família.
Em dias mais tranquilos, que tal deixar o seu pequeno explorar a comida e tentar segurar a colher? Vai ter sujeira? Sim! Mas vai ter muito aprendizado e descoberta também!
Método BLW
BLW é a sigla de Baby-Led Weaning (que em português significa “desmame guiado pelo bebê”). Aqui, a alimentação complementar conduz ao desmame de forma gradual. Desenvolvida pela britânica Gil Rapley, essa linha vem ganhando adeptos no mundo todo.
Mais que um método, é uma abordagem que se guia pela capacidade natural do bebê em se auto alimentar e descobrir sabores e texturas. Acredita-se que, ao “brincar com a comida”, a criança descobre aos poucos que ela também serve para alimentar, e vai aprimorando a autoconsciência e também autonomia alimentar.
A técnica não inclui alimentação com colher no início nem adaptação de consistência, como amassar ou triturar. Por isso, mais que no método tradicional, aqui os sinais motores sobre estar pronto para comer são fundamentais: sentar-se sem apoio e ter motricidade satisfatória das mãos são importantes para reduzir o risco de a criança engasgar.
Além disso, é preciso que os alimentos sejam cortados de forma que a criança possa segurar com as mãos, mas que também evite engasgos. Uvas e tomates, por exemplo, precisam ser cortados na direção longitudinal (no sentido do comprimento). Adultos que acompanham o processo precisam também ser treinados em manobras para desengasgar em caso de acidentes.
Ainda estão sendo feitos estudos científicos sobre o melhor método no tocante à relação futura com a comida. Mas o que se sabe é que, de uma forma ou de outra, ao se conduzir a introdução alimentar com respeito ao tempo da criança, a chance de ela desenvolver uma relação saudável com a alimentação é muito maior.
Por isso, esteja sempre atento aos sinais de saciedade da criança para não forçar a alimentação. Mesmo no método tradicional, recomenda-se deixar a criança explorar também os alimentos de forma separada, em texturas e apresentações diferentes. Quem gosta de monotonia?
Não esqueça: a introdução alimentar é um período de descobertas e o aleitamento materno segue sendo recomendado até os dois anos ou até quando mãe e filho assim o desejarem.
Com paciência e sem angústia, proporcionando um ambiente tranquilo, a criança vai ter a melhor experiência com a comida. Aliás, a introdução alimentar dos bebês é uma ótima maneira de começar a reeducação alimentar de toda a família. Tudo pelo bom exemplo!
Este artigo foi publicado no Portal de Saúde - Unimed Brasil.
Texto: Agência Babushka | Edição e Revisão: Unimed do Brasil
Fontes:
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP): Alimentação Complementar e BLW, Posição da SBP sobre o Guia de Alimentação do Ministério da Saúde.
Unimed: Alimentação infantil uma oportunidade para a família buscar mais saúde, Hora do desmame, Como estimular o desenvolvimento do bebê até 12 meses
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