Por conta da quarentena, vivemos em um cenário de menor interação social e mais tempo em frente às telas.
Em um momento de crescimento e desenvolvimento pessoal como a adolescência, qual é o impacto desse contexto no psicológico dos jovens? Vamos abordar esse e outros pontos no texto a seguir.
Era março de 2020. Os primeiros casos da doença causada pelo novo coronavírus surgiram no Brasil e, como medida de contenção, as atividades presenciais de escolas, universidades e demais instituições de educação, entre outros, foram paralisadas.
Situações como medo, incertezas e falta de perspectiva vieram junto com a pandemia e impactam diariamente a saúde mental de todos, mas possuem uma mudança especial no psicológico dos jovens.
O que inicialmente pareceu ser um afastamento de cerca de 15 dias mostrou-se necessário até os dias atuais, mudando a rotina de crianças e de adolescentes por tempo indeterminado: os encontros na sala de aula, nos parques e nos eventos com os amigos foram substituídos por salas virtuais. Todo o sistema de ensino precisou ser readequado para a nova realidade, ainda sem data para acabar.
Na transição da infância para a adolescência, pais e demais cuidadores costumam enfrentar momentos de tensão na relação com os filhos. Alterações hormonais e fisiológicas, por exemplo, podem causar estranhamento e mudanças no humor dos jovens e não devem ser negligenciados.
Durante a pandemia, outros fatores passaram a fazer parte do cotidiano de quem já está vivenciando muitas mudanças ao mesmo tempo. Por isso, os responsáveis devem estar atentos a mudanças mais críticas de comportamento.
Estar em isolamento social é um dos fatores que podem levar a um estado depressivo em diversas fases da vida. Na adolescência, esse impacto pode ser ainda maior. Para além do contato físico com outras pessoas, existem outros pontos de atenção que influenciam na saúde mental.
Por exemplo, o excesso de informação, a auto exposição constante na internet (através das redes sociais), entre outros, podem resultar em episódios de ansiedade e depressão em adolescentes. Outros transtornos, como o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), que costuma surgir na infância, podem ter um aumento significativo durante o período de isolamento social.
O estresse causado pela mudança repentina pode resultar, também, em episódios de irritabilidade, dificuldade para dormir, falta de paciência no trato diário com pais, cuidadores e outros familiares da mesma casa.
O importante, aqui, é perceber quando esses sintomas ultrapassam a barreira do "habitual" na adolescência. Existem alguns sinais de mudança comportamental que podem indicar um episódio depressivo, como, por exemplo: jovens que antes eram ativos e que agora passam muito tempo trancados no quarto, ou que evitam contato direto com outros membros da família dentro de casa. Situações como essas demandam um olhar atento por parte dos pais.
Em um momento de tanto medo, como a pandemia de COVID-19, o aumento na busca por terapeutas ilustra a necessidade de autoconhecimento e o alívio das tensões diárias que a quarentena despertou.
A saúde mental ainda é um tabu entre muitos adultos, por isso é tão necessário normalizar o assunto entre crianças, adolescentes e jovens em geral.
Se a conversa em casa e o convívio digital com os amigos não são o suficiente para amenizar a carga mental, talvez seja o momento de expandir a busca por ajuda e conversar com um especialista.
Quem é responsável pela manutenção da casa também está sentindo as mudanças psicológicas do contexto atual. Quando falamos de relacionamento entre adolescentes e pais ou cuidadores, é comum ouvirmos sobre os atritos familiares e as famosas discussões.
Na pandemia, o convívio diário entre todos os membros da casa potencializou as relações e, consequentemente, os atritos. Existem algumas possibilidades para tornar o lar um ambiente acolhedor, sem deixar o cuidado de lado:
O diálogo é lei: sem o mundo lá fora para contrabalancear, o dia a dia pode ser difícil, e é aí que entra a necessidade do diálogo honesto entre todos os membros da família. Estar disposto a ouvir os filhos com atenção e propor um espaço de acolhimento, sem julgamentos, auxilia para que eles se sintam confiantes para expor o que estão sentindo com mais facilidade
Respeito aos momentos de privacidade: às vezes, todos temos a necessidade de permanecer em silêncio ou mais reclusos, mesmo dentro de casa. É importante respeitar esses momentos particulares, sem deixar de lado a atenção para quando algo habitual vira rotina
Sentir-se triste é normal: apesar de parecer óbvio, normalizar os sentimentos vistos como negativos, ou o fato de o adolescente não estar com tanta disposição quanto antes, auxilia a identificar uma mudança de humor mais acentuada caso ocorra. Novamente, é um exercício de escuta sem julgamentos
De olho nas redes sociais: ao mesmo tempo que podem ser fontes de conhecimento e manutenção das relações fora do ambiente familiar, as redes sociais também podem apresentar sinais sobre a saúde mental dos adolescentes. É preciso ficar atento ao tipo de conteúdo consumido, principalmente para os mais jovens, mas sem interferir no livre arbítrio dos filhos.
A criação e a educação dos filhos é um exercício diário de crescimento para os pais e demais responsáveis.
Este artigo foi publicado no Portal de Saúde - Unimed Brasil.
Texto: Agência Babushka | Edição e Revisão: Unimed do Brasil
Fontes: Fiocruz, Hospital Santa Mônica, Agência Brasil
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